Pernambuco é o Estado onde as obras de duplicação da BR-101, no eixo norte, estão mais atrasadas. A diferença no andamento dos trabalhos, não importa se nos trechos executados pelo Exército ou pelos consórcios de empreiteiras, é gritante quando comparada ao da Paraíba (PB) e do Rio Grande do Norte (RN), que compõem o chamado Corredor Nordeste. Os paraibanos disparam na frente, com quase 80% dos 129 quilômetros prontos. Os potiguares têm 65% concluídos, de um total de 81,40 quilômetros, enquanto Pernambuco não chega a 50% dos 41,4 quilômetros que compreendem o trecho. As obras correm desde 2006 e vêm sofrendo atrasos frequentes.
Quem percorre o trecho pernambucano do Corredor Nordeste, entre Igarassu, no Grande Recife, e Goiana, na divisa com a Paraíba, percebe o atraso. São apenas 14 quilômetros concretados até a entrada da Praia de Pontas de Pedra e oito quilômetros praticamente prontos, onde o tráfego está liberado, mas ainda em mão dupla. Mesmo assim, divididos num trecho com cinco e outro com três quilômetros. Diante desse cenário, é pouco provável que a duplicação esteja finalizada em abril do próximo ano, como garante o Exército.
“Estávamos com tudo pronto para liberar cerca de 20 quilômetros duplicados no lote de Pernambuco, mas, infelizmente, a chuva não deixou. Foi um verão atípico. E a construção de estradas é incompatível com a chuva. Altera as condições do concreto, impossibilita a execução de terraplenagem, que é a estrutura da estrada. Se não há garantia de que a qualidade do concreto será de 100%, não fazemos. Construir a BR-101 para o Exército é uma missão. Somos muito rigorosos”, argumenta o general de brigada Jorge Fraxe, comandante do 1º Grupamento de Engenharia do Exército.
Mesmo assim, o general diz que o cronograma de entrega da rodovia será mantido e que, para liberar os primeiros 20 quilômetros, precisa apenas de três semanas seguidas de sol. “Superamos os grandes desafios, que foram as licenças ambientais, principalmente na mata de Goiana, as desapropriações de imóveis e a relocação de famílias. Com tempo bom, finalizo uma ligação de 300 metros e libero o primeiro trecho”, garantiu. O 1º Grupamento de Engenharia do Exército responde, ainda, pela construção do lote 1, entre Natal e o município de Arês (RN), e o lote 5, da divisa PE/PB até a entrada da cidade paraibana de Santana.
O atraso das obras em Pernambuco se acentua exatamente quando se chega à vizinha Paraíba. Com 90% dos três lotes feitos, aquele Estado se destaca. Assim que se cruza a divisa, percebe-se o avanço dos trabalhos. São 21 quilômetros prontos e liberados ao tráfego desde janeiro, totalmente sinalizados. Os 108 quilômetros restantes estão adiantados, com aproximadamente 60 quilômetros concretados. “Os 21 quilômetros liberados foram no lote 5, mas deveremos permitir o tráfego até abril em mais 50 quilômetros dos lotes 3 e 4, até a divisa com o Rio Grande do Norte. Estamos liberando mais rápido porque agilizamos as licenças ambientais e desapropriações”, justifica o superintendente do Departamento Nacional de Infra Estrutura de Transporte (Dnit) da Paraíba, Expedito Leite.
No Rio Grande do Norte, a agilidade não é tanta, mas as obras nos dois lotes de lá se destacam se comparadas com a realidade de Pernambuco. Dos 81 quilômetros de duplicação, 40 estão prontos, sinalizados, aguardando apenas pequenos detalhes. Segundo o Exército, responsável pelo lote 1, 15 quilômetros deverão ser liberados ao tráfego nos próximos dias. Depende apenas da sinalização horizontal em um quilômetro da via, entre os municípios de Parnamirim e São José de Mipibu.
Entre as idas e vindas da empreitada, quem sofre é a população. Há quem esteja otimista com o projeto e quem acumula prejuízos. Um exemplo é a dona de casa Maria de Fátima Araújo, 51 anos, que reside em São José de Mipibu (RN) e desde outubro convive com uma lagoa em frente de casa. “Desde que começaram a escavar para construir a estrada, a gente não tem mais sossego. Vivemos como pato. Ninguém tira um carro de casa e, para sair, tem que ser com água no joelho”, lamentou Maria de Fátima, uma das moradoras prejudicadas.
Na Paraíba, a situação não é diferente. Em Mamanguape, município que se desenvolveu às margens da BR-101, a comunidade do Planalto teve que interditar a rodovia, durante o Carnaval, para forçar o Dnit a resolver o problema de alagamentos. “Não somos contra o desenvolvimento, mas estão fazendo essa BR pensando apenas nos carros, sem se preocupar com a população do entorno. Nós vivíamos tranquilos e, agora, estamos sendo engolidos pelo material que eles utilizaram na construção. Diversas casas vivem inundadas e muitos comerciantes tiveram prejuízos”, ataca a diarista Silvânia dos Santos.
Há quem só tenha perspectivas positivas em relação à duplicação da BR-101. O empresário pernambucano Josenildo dos Santos, dono da rede O Rei das Coxinhas, famosa no Agreste de Pernambuco, está construindo a segunda loja às margens da rodovia, na altura do município paraibano de Pedra de Fogo, próximo à divisa entre os dois Estados. “Sempre quis vir para essa região e, em agosto passado, abri a primeira loja. Agora, com a duplicação, estou erguendo o segundo estabelecimento, acreditando que meu movimento vá aumentar em mais de 50%”, afirmou. É esperar para ver.
Jc online
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