Uma das cidades da Mata Norte mais envolvida com o patrimônio das culturas e tradições vive a expectativa para uma noite memorável.
O município de Paudalho, à 37 Km do Recife, marcou na agenda oficial um sábado, dia 19 de Setembro, como a dia em que personalidades, políticos, artistas, autoridades intelectuais e demais cidadãos que desenvolvem atividades ligadas à defesa de relevantes causas sociais irão se reunir com o intuito de celebrar ao que de melhor temos em nosso nicho de cultura popular. O Prêmio Cidadão – Troféu Ariano Suassuna, Será uma honraria oferecida a Homens que fizeram jus ao mérito da cidadania, da valorização do conhecimento e da preservação de um futuro menos desigual e com mais oportunidade. O evento que acontecerá no Salão Nobre da prefeitura de Paudalho, contará com um público seleto de 300 convidados que assistirão a diversas apresentações artísticas e culturais e a essa homenagem que leva o nome do patrono maior das causas nordestinas que defende a golpes de sabedoria e riqueza poética as nossas bandeiras e tradições.
“ O mestre Ariano Suassuna foi de uma simpatia e uma elegância digna do remetente, nos autorizando em primeira hora através de uma documentação, a realização do prêmio com o seu nome, nos foram enviadas também diversas obras inéditas do mestre, algumas iluminogravuras que serão expostas no ambiente do evento.” destacou Wellington Couto, diretor da WF promoções que produz o evento junto com a Secretaria de Cultura do município e a Prefeitura da Cidade.
Paudalho - O palco não poderia ser outro para um evento tão importante, Paudalho, cidade conhecida pelo turismo religioso e pela diversidade cultural abriga dezenas de trabalhadores das chamadas culturas de resistência e ícones das manifestações culturais das mais diversas. Várias passagens poéticas de artistas e escritores renomados como as do escritor e dramaturgo Aguinaldo Silva, ganharam mais brilho e lucidez com o cenário de pontos e peculiaridades da cidade e de sua gente. O filme Lisbela e o Prisioneiro do diretor Guel Arraes, foi gravado em Paudalho, levando a cidade para as telonas no âmbito nacional e a comédia à ser um sucesso nacional de bilheteria e crítica. Inclusa na Rota turística dos engenhos e maracatus, a cidade é alvo de turistas de diversas partes do país ou do exterior que vislumbram compreender a sua estratificação, a sua religiosidade e cultura.
Ariano - Poeta, dramaturgo e romancista, Ariano Vilar Suassuna nasceu na cidade da Paraíba (hoje João Pessoa), capital do Estado da Paraíba, a 16 de junho de 1927. Seu pai, João Suassuna, exercia, à época, mandato de “Presidente”, o que correspondia ao atual cargo de Governador. Terminado seu mandato, João Suassuna deixa o litoral e volta ao sertão, sua terra de origem, fixando-se na fazenda “Acauhan”, no município de Sousa. Mas, é no Sertão da Paraíba que Ariano passa boa parte da infância, primeiro na “Acauhan”, depois no município de Taperoá. Em 1942, a família Suassuna fixa-se em Recife, capital de Pernambuco. É em Recife que Ariano inicia a sua vida literária, com a publicação do poema Noturno, a 07 de outubro de 1945, no Jornal do Commercio. Ao ingressar na Faculdade de Direito, em 1946, liga-se ao grupo de estudantes que retoma, sob nova inspiração teórica, o Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP). Mais do que um movimento teatral, o TEP foi um movimento de revalorização da cultura brasileira, com atuação em várias áreas da criação artística. De 1946 a 1948, são publicados, em revistas e suplementos de jornais, seus primeiros poemas ligados ao Romanceiro Popular Nordestino, universo de poemas e canções que inclui desde a poesia improvisada dos cantadores até a Literatura de Cordel e de tradição oral decorada. É partindo principalmente dos folhetos do Romanceiro que Suassuna vai encontrar o caminho para criar toda a sua obra teatral. Em 1947, escreve a sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. No ano seguinte, estréia em palco com Cantam as Harpas de Sião, depois rescrita sob o título de O Desertor de Princesa (1958). Ainda estudante de Direito, escreve Os Homens de Barro (1949) e o Auto de João da Cruz, esta no ano de sua formatura (1950). Em 1951, em Taperoá, para onde vai a fim de curar-se do pulmão, escreve e encena, com mamulengos, o entremez Torturas de um Coração ou Em Boca Fechada Não Entra Mosquito. Esta peça é extremamente importante no teatro de Suassuna. Em primeiro lugar, porque, a exemplo de outros entremezes, serviu como núcleo inicial de uma peça maior, A Pena e a Lei. Depois, porque Torturas é o primeiro trabalho de Suassuna ligado ao campo do Cômico. Até aí, Suassuna somente se dedicava à composição de tragédias – excetuando-se o Auto de João da Cruz, um drama sacramental. Após Torturas, o autor escreve mais uma tragédia, O Arco Desolado (1952), para então dedicar-se às comédias que o deixaram famoso: Auto da Compadecida (1955), O Casamento Suspeitoso (1957), O Santo e a Porca (1957), A Pena e a Lei (1959) e Farsa da Boa Preguiça (1960), para mencionar as peças publicadas em livro e sem considerar outros entremezes, todas comédias importantíssimas para o teatro brasileiro contemporâneo. A partir da encenação, no Rio de Janeiro, do Auto da Compadecida, em janeiro de 1957, durante o Primeiro Festival de Amadores Nacionais, Suassuna é alçado à condição de um dos nossos maiores dramaturgos. Premiada com a “Medalha de Ouro” da Associação Brasileira de Críticos Teatrais, no mesmo ano a peça é publicada em livro. Encenado em diversos países, o Auto encontra-se editado em vários idiomas, dentre os quais o alemão, o francês, o inglês, o espanhol e o italiano, e recebeu, até hoje, três versões para o cinema. A partir de 1956, com A História do Amor de Fernando e Isaura, versão nordestina de Tristão e Isolda, Ariano passa a dedicar-se, também, ao romance. No mesmo ano, inicia carreira docente na Universidade Federal de Pernambuco, onde irá lecionar várias disciplinas ligadas à Arte e à Cultura, até se aposentar, em 1989. Em 1959, funda, com Hermilo Borba Filho, o Teatro Popular do Nordeste (TPN). Em 1960, forma-se em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco. De 1958 a 1970, trabalha em um longo romance, editado em 71 – o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, saudado pela crítica como um dos mais importantes romances da Língua Portuguesa. Suassuna chama-o “romance armorial-popular brasileiro”, na intenção de vinculá-lo ao Movimento Armorial, por ele idealizado e lançado oficialmente no Recife, a 18 de outubro de 1970. Segundo o próprio Suassuna, “a Arte Armorial Brasileira tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos ‘folhetos’ do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus ‘cantares’, e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados”. Em 1976, torna-se Livre Docente da UFPE, defendendo a Tese A Onça Castanha e a Ilha Brasil – Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira, ainda inédita. De 1975 a 1977, publica, em folhetins semanais, no Diário de Pernambuco, duas partes da História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão, segundo volume da trilogia iniciada com A Pedra do Reino. Em 1987, retorna ao teatro com As Conchambranças de Quaderna, trazendo pela primeira vez ao palco o mesmo personagem do seu romance, Dom Pedro Dinis Ferreira-Quaderna, o Decifrador. Em 1990, toma posse na Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 1989. Ingressa, depois, nas Academias de Letras de Pernambuco (1993) e da Paraíba (2000). Atualmente, dedica-se à escritura de um novo romance, com o qual pretende não só rever toda a sua obra, mas concluir a trilogia iniciada com A Pedra do Reino e interrompida com O Rei Degolado.